Com Que Sonham Os Peixes?_

“É disso que as ruas de São Paulo tentam convencer quem passa por elas: que se está em outro lugar, num esforço inútil de aliviar a tensão e o incômodo de estar aqui, o mal-estar de viver no presente e de ser o que é.” (Bernardo Carvalho em “O sol se põe em São Paulo”)

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os muitos engarrafamentos dos quais fiz parte durante os 17 anos em que vivo em São Paulo, pude observar, inúmeras vezes, um estado de ausência passageira que parece se apossar de quem está parado a minha volta. Em meio ao transe, em algumas ocasiões, os olhares se cruzam e, como se houvéssemos quebrado uma etiqueta urbana, o outro parece dividir comigo o mesmo desconforto em ser descoberto e se descobrir ali, de viver o presente, e a mesma vontade de se transportar para outro lugar, outro tempo… De alguma maneira, este é um retrato da cidade que trago gravado em meu imaginário. Assim, buscando surpreender o cotidiano que me cerca há tanto tempo, decidi esconder uma câmera na parte de trás do meu carro e, graças a uma ligeira mudança de ponto de vista, tentar tornar visível uma realidade que se ocultava sob a aparência do comum. Passei a observar a atividade no inteiror dos carros que, como nossos pensamentos, parece se desenrolar num mundo paralelo ao exterior. Dentro daquele confinamento, vidas são vividas – planos são feitos, sonhos são sonhados, emoções íntimas afloram – navegando-se de um lugar para outro, tanto geograficamente como psicologicamente. Porém, apesar da aparente privacidade, o que supostamente deveria nos envolver e acolher como um abrigo, na verdade, se coloca mais como um palco a céu aberto, separado da platéia por uma fina membrana transparente, um mediador entre duas realidades. Através dos para-brisas esverdeados, como peixes num aquário, motoristas e passageiros tem suas vidas expostas e são observados sem se dar conta.

Bem Vindo!

Desejo a você uma ótima visita e espero que desfrute e se conecte com as imagens e projetos que vem me acompanhando ao longo de uma trajetória de vida. Abs!